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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Necessidade x realidade: contratos curtos geram economia e problema no Botafogo


Das 52 contratações da era CEP, 41 foram com vínculos iguais ou menores do que um ano, e 48,7% das apostas "deram errado". Por outro lado, clube tentou renovar com 46,3% e só conseguiu 19,5%








O acerto de Roger com o Internacional foi só mais um caso em que o Botafogo acabou servindo de vitrine para o mercado. Nos últimos anos, Willian Arão, Diogo Barbosa, Sidão, entre outros, viveram situações parecidas: foram contratados como apostas pelo clube com vínculos curtos, chegaram em baixa e sem holofotes, mas obtiveram destaque e saíram valorizados. O ainda atual camisa 9 alvinegro era o mais conhecido, mas há tempos não jogava em time de maior expressão.
Contratos curtos no Botafogo

Renovou: 8
Não conseguiu renovar: 11
Liberados: 20
Indefinidos: 2
Fonte: GloboEsporte.com


Ver seu artilheiro se despedir de graça após 17 gols na temporada faz o torcedor se perguntar sobre a necessidade desta política de contratos curtos adotada na era Carlos Eduardo Pereira. Das 52 contratações da gestão, 41 foram por um ano ou menos de duração. Em delicada situação financeira, a aposta ajuda a não comprometer os cofres de General Severiano por longos prazos se o reforço não vingar. O que aconteceu em 20 dos casos (48,7%), que foram liberados: veja abaixo.

Alisson
Diego Giaretta
Pedro Rosa
Thiago Carleto
Bazallo
Camacho
Serginho
Daniel Carvalho
Diego Jardel (empréstimo)
Lizio
Gervásio "Yaca" Núñez
Lulinha
Montillo
Salgueiro
Tomas Bastos (empréstimo)
Anderson Aquino
Bill
Geovane Maranhão
Joel (empréstimo)
Tássio

Quem renovou


Hoje fora dos planos, Renan Fonseca já foi prioridade em renovação (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)



A dificuldade desta realidade surge quando a aposta dá resultado e se aproxima do final de seu contrato. O Botafogo, que geralmente demora um tempo maior para abrir negociações para renovação, tentou ampliar o vínculo de 19 desses jogadores (46,3%). Porém, só obteve êxito na extensão do compromisso com oito deles (19,5%): veja abaixo (há ainda no elenco atual dois casos que chegaram esse ano e estão com a situação indefinida, de Gilson e Jonas).


Emerson Silva: chegou emprestado pelo Atlético-MG por um ano, formou em muitos momentos a zaga titular ao lado de Carli em 2016 e renovou até dezembro. Atualmente vive a expectativa para prorrogar de novo o vínculo;

Renan Fonseca: após se destacar na Série B, o zagueiro foi tratado como uma das prioridades da diretoria na época e após longa negociação assinou por mais dois anos. Hoje está fora dos planos e sairá do clube em dezembro;

Arnaldo: primeiro reforço do Botafogo para o segundo semestre atual, o lateral-direito foi contratado às pressas pela carência da posição, chegou emprestado pela Penapolense, agradou e já tem acertado uma renovação por mais dois anos;

Luis Ricardo: chegou emprestado pelo São Paulo, teve grande destaque e uma negociação difícil para renovar. Chegou a ser convocado para se reapresentar no Morumbi, mas o Botafogo chegou a um acordo para adquirir o lateral em definitivo;

Victor Luis: outro lateral que veio por empréstimo, só que do Palmeiras. Começou na reserva, mas terminou o ano passado como titular e após uma confusa negociação renovou o empréstimo por mais um ano. Só que agora deve voltar para o Alviverde;

Airton: o volante está no clube desde 2013, mas seu contrato anterior terminou em junho de 2015. Em setembro do mesmo ano, foi recontratado pela atual gestão por três meses. Depois, renovou até o fim do Carioca de 2016, e em seguida, até fim de 2017;

Lindoso: o volante chegou emprestado pelo Madureira após se destacar no Carioca de 2015. Virou reforço para a Série B, demorou a se firmar, mas virou titular e assinou contrato de dois anos. Em julho, ampliou novamente o vínculo até o fim de 2019;

Neílton: é o único das apostas que o Botafogo conseguiu renovar que já deixou o clube. O atacante veio emprestado pelo Cruzeiro para jogar a Série B e foi bem. Após longa negociação, a diretoria conseguiu prorrogar o empréstimo por mais um ano, só que no fim de 2016 ele acabou sendo emprestado pela Raposa ao São Paulo.


Quem tentou e não renovou


Comprado pelo Palmeiras por R$ 5,8 mi, Diogo é o ala mais caro do país (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)


Dos 19 jogadores que o Botafogo contratou como apostas e tentou renovar, a maioria não continuou no clube: 11 (equivalente a 26,8% do total de 41 contratações a curtos prazos). Negociações que sucumbiram, seja por ofertas recusadas, por concorrência estar atravessando ou por pagamento de multa rescisória. O caso mais recente é o de Roger, mas há outras peças importantes perdidas: veja abaixo.


Sidão: após ótimo Brasileiro em 2016, teve a renovação apalavrada, mas o São Paulo atravessou. O Botafogo tinha acerto com o atleta, mas o Tricolor negociou diretamente com Audax, então dono dos direitos econômicos do goleiro;

Roger Carvalho: foi bem na Série B e agradou. O Botafogo chegou a propor a renovação, mas os números não agradaram, e o zagueiro acertou com o Palmeiras;

Alemão: outro que teve a renovação apalavrada. No entanto, Cacá Azeredo (vice de futebol) desentendeu-se com a Elenko (empresa que cuida da carreira do lateral) por conta das negociações por William Potkker e Lucca. Houve um desgaste, o lateral aumentou a pedida e acabou acertando com o Internacional;

Diogo Barbosa: o Cruzeiro se interessou cedo e comprou logo 25% do lateral-esquerdo, que pertence a um grupo de empresários e teve grande destaque em General Severiano. Quando o Botafogo entrou na jogada já era tarde demais;

Willian Arão: após se destacar na Série B, o volante acertou com o Flamengo. O Alvinegro entende que, por contato, tinha direito à renovação automática mediante ao pagamento de R$ 400 mil. O assunto ainda está na Justiça, mas o Botafogo já perdeu em duas instâncias;

Elvis: alternou bons jogos na Série B e houve um início de negociação para renovação, mas as partes não chegaram a um acordo financeiro;

Navarro: destaque com gols na Série B, o uruguaio pediu alto para renovar. Apesar do interesse do Botafogo, transferiu-se para o Puebla, do futebol mexicano;

Pimpão: após um bom primeiro semestre em 2015, despertou interesse do futebol árabe. O Botafogo já fazia planos para renovar quando o Emirates Club pagou a multa de U$ 500 mil e levou o atacante, que retornou um ano depois;

Roger: o Botafogo considerou alta a pedida do atacante para renovar. Durante a negociação, o Inter chegou a um acerto e fechou com o atacante, que jogará no Colorado em 2018;

Ronaldo: autor do gol que garantiu o acesso na Série B, o atacante teve a renovação bem encaminhada. No entanto, o Botafogo acabou desistindo do negócio antes da assinatura;

Guilherme: 12º jogador de Jair Ventura em 2017, o atacante chegou emprestado pelo Grêmio e teve momentos de destaque, o que fizeram o Alvinegro a sondar uma prorrogação do empréstimo. Porém, o Tricolor já solicitou o seu retorno no final do ano;


Contratos longos



João Paulo foi o 1º investimento de compra da era CEP e assinou por 3 anos (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)


Na era CEP, o Botafogo só começou a fazer contratos maiores com jogadores do ano passado para cá, à medida que o clube foi conseguindo respirar financeiramente (principalmente pela classificação para a Libertadores): foram seis vínculos grandes em 2016 e cinco em 2017. Os três maiores compromissos chegam a três temporadas: veja abaixo.


Gatito Fernández: 2 anos
Carli: 2 anos (renovou por mais 1)
Bruno Silva: 2 anos (renovou por mais 1)
Dudu Cearense: 1,5 ano
João Paulo: 3 anos
Camilo: 2 anos (rescindiu)
Leo Valencia: 3 anos
Marcos Vinícius: 3 anos
Marquinho: 1,5 ano (rescindiu)
Brenner: 1,5 ano
Canales: 1,5 ano (rescindiu)


Do apagado Lizio ao "achado" Carli: análise dos 52 reforços de CEP


No entanto, a política de apostas, apesar do risco de virar vitrine novamente, vai continuar em General Severiano, ao menos no início da próxima gestão. Eleito presidente do Botafogo para o triênio 2018-2020, Nelson Mufarrej explicou em entrevista semana passada ao GloboEsporte.com que o clube paga rigorosamente em dia e que por isso precisa tomar cuidado nos investimentos.


– Tem que ser essa política, ter o feeling de saber se vamos contratar alguém por mais tempo ou não. Ou a própria comissão técnica. Já pensou? O jogador não se adaptou ao esquema do técnico... Aqui todos recebem certinho em dia, até quem não está jogando.



Mufarrej entregou placa de um ano como técnico a Jair Ventura (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)


Embora não tenha citado nomes, jogadores que se enquadram ou já se encaixaram na situação de ficar sem ser aproveitados são, por exemplo, Renan Fonseca, Canales, Montillo, Bazallo... O dirigente reconhece o risco dos contratos curtos, lembrando que qualquer atleta pode fechar com outro clube nos últimos seis meses de vínculo, mas não vê outra saída.


– A legislação de seis meses nos deixa muito vulneráveis. O pré-contrato é um desequilíbrio total. Deveria ter alguma coisa para equilibrar isso. Então realmente a gente corre esse risco – lamentou.


Fonte: GE/Por Felippe Costa, Marcelo Baltar e Thiago Lima, Rio de Janeiro